Santa Tereza de hoje e para o amanhã
Espaços públicos para um bairro sustentável, inclusivo e preparado para o futuro

2025
✰ 2º Lugar no Concurso para Projeto Urbanístico Integrado Santa Tereza, Porto Alegre/RS.
Projetar espaços públicos é projetar espaços para o futuro de uma comunidade, considerando fatores como a necessidade de adaptação às mudanças climáticas, o envelhecimento da população de Porto Alegre e a oferta de espaços de lazer, esporte e cultura propícios à formação dos jovens da região. Com o olhar orientado ao futuro, o projeto adota como estratégias (1) superdimensionar a infraestrutura de adaptação e mitigação climática, levando em conta as projeções de aumento da frequência e intensidade dos eventos climáticos extremos; (2) pensar espaços transgeracionais com especial ênfase na infância e no envelheci mento da população e (3) fortalecer o caráter e referência de cada uma das praças a partir dos usos existentes e elementos do entorno, ainda que todas possuam multiplicidade de usos.

Diretrizes projetuais
ORDENAMENTO DO ESPAÇO parte da manutenção da vegetação existente e da intervenção pontual na topografia, reduzindo ao máximo a quantidade de árvores suprimidas e a movimentação de terra. A criação de eixos estruturantes ajuda a distribuir e acessar os diferentes usos e espaços.
INFRAESTRUTURA COMO PAISAGEM incorporando SbN e técnicas de bioengenharia como elementos estruturantes para a construção de espaços públicos, servindo não apenas como elementos de infraestrutura mas também como espaços de uso e fruição pública.
PROTAGONISMO DA NATUREZA NAS CIDADES além de manter quase todas árvores existentes, propõem-se um expressivo aumento da vegetação nas praças e vias, proporcionando áreas sombreadas de combate ao calor urbano, trazendo maior permeabilidade ao solo e servindo como elemento de trata mento das interfaces muradas das praças.

Praça Rejane Vieira
O projeto para a Praça Rejane Vieira busca melhorias que consolidem os usos e atividades existentes. Localizada ao lado da Escola Almirante Álvaro Alberto da Motta e Silva, a praça é amplamente utilizada pelos estudantes da escola. Por isso, optou se por reforçar o caráter de espaço de usos infanto-juvenil, com ênfase em espaços de brincar.
O reordenamento do espaço parte do traçado de eixos norte-sul, que cruzam a praça em diagonal, alinhados ao módulo existente. No centro da praça foi posicionada a quadra, que embora o edital preveja cobertura, está posicionada no sentido norte-sul para, em caso de execução em etapas, possua orientação solar adequada para ser utilizada sem cobertura.
A partir do posicionamento da quadra, os espaços remanescentes da praça foram ocupados com os demais usos previstos: na esquina sudeste, um ponto de maior cota da praça, foi prevista uma pracinha infantil com brinquedos de água e mirante com chimarródromo; na porção sudoeste, por ser menos exposta ao sistema viário, foi prevista uma pracinha infantil que utiliza a topografia para a instalação de escorregadores e brinquedos de escalada.
A topografia acidentada da praça é atenuada por meio dos patamares de pedra que servem tanto para conter movimentações de terra e erosão, quanto servem como arquibancada para a quadra e para a pista de corrida de carrinhos de rolimã e bicicleta.
Na parte norte da praça foram previstos os espaços de jogos, churrasqueira, academia e bocha, proporcionando conexão tanto com a área esportiva quanto com a sede da Associação União de Vilas localizada ao lado da área de projeto.
Diferentemente dos demais espaços que encontram-se em topos de morro (upstream areas), o terreno A encontra-se em uma base de morro, o que significa que em eventos de chuva intensa recebe não apenas a precipitação local como também o escoamento de áreas mais altas. Por isso, priorizou-se o superdimensionamento da infraestrutura de contenção de taludes e a permeabilidade do solo.



Praça Moderna
A Praça Moderna salienta se como espaço de cultura, uma vez que já é um local consolidado no bairro para apresentações ao ar livre.
O ordenamento do espaço parte da definição de um eixo estruturante que cruza a praça e, devido à topografia, possui algumas escadas ao longo do seu percurso. De modo a resolver a acessibilidade universal, são previstas rampas laterais que conectam todo trajeto com inclinação adequada para pessoas com deficiência, pessoas com carrinhos de bebês, etc. Novamente, a topografia é ajustada com patamares de pedra que servem também de arquibancada para a área aberta de palco e para as quadras esportivas.
As quadras esportivas são posicionadas no sentido norte-sul para trazer maior conforto lumínico para a atividade. A norte da área esportiva, foi posicionada a área de estar e churrasqueiras, mantendo o acesso local às casas existentes no local.
Na parte leste da praça, que é a de maior altitude, foram posicionados pergolados para chimarródromo, área de estar, pracinha infantil e o palco para atividades culturais. Daqui, é possível observar a vista para o Guaíba.
Na parte sul da praça, onde existe um cul-de-sac com um canteiro expressivo com árvores de grande porte, prevê-se a instalação de um jardim de chuva que recebe água dos drenos instalados ao longo da praça que, por gravidade, conduzem a água até o reservatório natural. Ainda, junto ao cul-de-sac, foram previstas vagas de estacionamento.
Todas interfaces muradas são resolvidas com o posicionamento de vegetação (árvores e arbustos) de modo a dissolver a aresta entre piso e muro.
Do ponto de vista dos perigos climáticos, a praça destaca-se pela presença de intensa ilha de calor, para o que propõem-se o aumento expressivo da arborização. Não apresenta riscos de inundação e alagamento, portanto as estratégias adotadas são no sentido de reduzir o escoamento para áreas mais baixas.



Mirante da TV
A praça do Mirante da TV é um mirante emblemático da cidade de Porto Alegre. Por isso, o uso de referência do espaço é voltado à contemplação das visuais e à valorização cênica do espaço.
A praça possui interfaces com os estúdios de rádio e televisão da capital e com a entrada da Vila Gaúcha. Na via a sul da praça, existe um ponto de lotações, sendo um ponto nodal importante de transporte para moradores e trabalhadores da região.
Buscando ordenar o espaço e facilitar os fluxos, são traçados dois eixos estruturantes no espaço, um norte-sul (que conduz por uma escadaria ao acesso da Vila Gaúcha, poupando moradores de precisarem contornar toda a praça para chegar ao transporte público) e um leste-oeste, que serve como continuação do passeio existente e conduz à imensa figueira-da-folha-miúda existente na parte mais alta da praça.
São propostos dois mirantes marcados pela presença de pergolados: um no nível mais alto próximo à Rua Corrêa Lima, que vem acompanhado de pracinha infantil, chimarródromo, área de jogos e academia ao ar livre; e outro no nível intermediário, junto à via local, com esplanada para a instalação de feiras e eventos. Neste mesmo nível, à leste do eixo e junto ao muro lindeiro, foram posicionados os sanitários públicos e área de churrasqueira, evitando que obstruam a vista dos dois mirantes. Os estacionamentos existentes na via local, que traziam poluição visual à vista do mirante, foram reposicionados na lateral junto ao muro do terreno vizinho.
Esta praça encontra-se em área de média suscetibilidade a movimentos de massa (deslizamentos), devido a estar no topo de morro. Para estabilização dos taludes foram previstos muros de arrimo de pedra que servem como arquibancada para a vista do entardecer. Na base dos taludes foram previstas trincheiras de infiltração para reter água em eventos de precipitação intensa, evitando assim que a água siga escorrendo morro abaixo causando possíveis danos em outras áreas.



Campinho da Gaúcha
O Campinho da Gaúcha consiste em um espaço público de uso quase exclusivo da comunidade local, servindo também de local de passagem e conexão da Vila Gaúcha com a Avenida Padre Cacique.
O eixo estruturante do espaço foi posicionado na continuação da via de acesso, seguindo em linha reta até uma escadaria de acesso que vence o terreno íngreme em direção à avenida. A escolha pela escadaria se justifica no sentido de propor um caminho em linha reta, em que se possa ver o trajeto inteiro, trazendo maior sensação de segurança. Para a acessibilidade são previstas rampas que vão vencendo a topografia, possibilitando o tráfego de pessoas com deficiência ou baixa mobilidade, pessoas com carrinhos de bebê, carrinhos de compras, entre outros. Como estratégia para que a implementação desta infraestrutura não termine por incentivar a expansão da ocupação irregular da encosta do morro, propõem-se a apropriação do espaço com espaços de uso comunitário, em forma de hortas e pomares públicos comunitários.
A praça em si é ordenada mantendo o posicionamento original do campo de futebol, deixando um espaço livre a norte para a criação de um mirante equipado com chimarródromo, churrasqueira e área de estar. Na área entre o campo e as casas foi prevista a pracinha infantil, em área mais resguardada e segura.
A arborização é intensificada de modo a proporcionar mais áreas sombreadas e proteção física das casas que têm interface com o campo de futebol.
Devido à topografia acidentada do morro acima do terreno D, previu-se ao longo da via de acesso a instalação de calhas de drenagem para coleta e condução da precipitação para jardins de chuva, auxiliando assim na retenção e infiltração da água, reduzindo efeitos de alagamentos a jusante bem como o risco de deslizamentos de terra.



Praça Cícero Viana
A praça Cícero Amaral apresenta-se como o espaço com topografia menos acentuada dentre as praças objeto do concurso, porém possui vegetação de grande porte em estágio consolidado. A substituição de árvores adultas por mudas trata-se de uma perda em termos de serviços ecossistêmicos e áreas sombreadas, uma vez que mudas levarão anos ou décadas até atingir o porte das existentes. Assim, o ordenamento do espaço partiu da máxima preservação de indivíduos vegetais existentes, a partir da criação de um eixo que cruza a praça lateralmente conectando as duas vias que a ladeiam. Nas interfaces muradas (norte e sul), preve-se o plantio de árvores e arbustos de modo a suavizar a aresta.
Com ênfase no uso esportivo, os equipamentos de esporte foram posicionados nas áreas livres de vegetação de grande porte, buscando a melhor orientação solar para o campo de futebol 7. Entre as duas quadras esportivas, foram posicionadas as áreas de churrasqueira e a edificação comunitária com banheiro e vestiários, proporcionando proximidade entre os usos afins. Ao redor da praça, uma pista de corrida e caminhada sinalizada soma 400m por volta. O eixo central que cruza a praça possui largura de 5m para a realização de feiras e eventos. Na parte sudeste da praça, entre o muro lindeiro e a via local com cul-de-sac foi posicionada a pracinha infantil, por tratar-se da área mais resguardada do trânsito. Na parte norte da praça, preservando os matacões existentes, foram posicionados pergolados equipados com chimarródromo, área de estar e academia ao ar livre.
A edificação proposta compõem de uma cobertura sob a qual estão a quadra poliesportiva com arquibancada, bem como as salas multiuso para música, para associação de moradores, reuniões e eventos. As salas possuem fachada virada para o eixo que abrem-se totalmente à praça para a realização de eventos.
Junto à via de menor tráfego de veículos foram previstas vagas de estacionamento prioritárias para qualificar a acessibilidade universal ao local.



Vegetação

Federico Rodrigues Gesualdi - paisagista
Mariana Mincarone - arquiteta e urbanista
Maria Paloma Bernardi - arquiteta e urbanista
Poliana Antunes - estudante de arquitetura e urbanismo
Rebeca Tumba - estudante de arquitetura e urbanismo
Sophie Rivoire - estudante de arquitetura e urbanismo
Vanessa Boelter - estudante de arquitetura e urbanismo
material completo:
https://comunidadesantatereza.concursorsseguro.org.br/propostas-cadastradas/