Requalificação da Feira Central de Campina Grande
2023
✰ 2º Lugar no Concurso Público Nacional de Arquitetura e Urbanismo para a Requalificação da Feira Central de Campina Grande/PB.
tradição e contemporaneidade na feira das feiras
“À primeira vista, a um olhar mais desatento, pode-se tomar a Feira como um lugar caótico e desorganizado. Entretanto, uma percepção mais aguçada sobre esse “mundão de coisas” ou uma observação mais atenta a partir dos seus espaços de sociabilidade acabam revelando realidades bem peculiares deste ambiente caracterizado pelas trocas.” (IPHAN, 2017)
Sem abrir mão da riqueza, da diversidade e do caráter labiríntico da feira, a proposta busca atribuir um ordenamento sutil a estes espaços, por meio da sobreposição de camadas, formando uma trama de usos, pessoas, bancas e saberes, inspirada pelas tramas de cestarias tão características e representativas da Feira.
“A produção de objetos a partir dos variados tipos de cipó, tendo como principal resultado os cestos, balaios e caçuás, constitui-se em um modo de fazer que não apenas representa mais um entre os encontrados na Feira, mas se destaca pela produção de bens que podem ser vistos em sua funcionalidade na própria Feira de Campina.” (IPHAN, 2017)
que mundo queremos? que visão de futuro nos cativa?
Imaginamos um mundo com menos barreiras, sem grades e neste caso nem mesmo meios fios. A urbanidade se unifica através desenho urbanístico e do tratamento de piso, se integra como um todo e faz com que este trecho da cidade adquira uma fluidez que cruza as ruas, o Largo e o Mercado, dissolvendo os limites dos antigos armazéns até a rua do Antigo Cassino Eldorado. Tudo faz parte de uma nova realidade que oferece mais espaço para as pessoas, para as bicicletas, para as bancas, para a vegetação nativa, para a cultura de rua e menos para os automóveis. Um projeto que pretende recolocar a natureza, a qual pertencemos (KRENAK,2020), como presença urbana novamente.
inovação: a busca de um marco ético, não um marco estético
As crises ecológicas que ameaçam nosso planeta são o resultado direto das transformações técnico-científicas, desenvolvidas de forma acrítica (GUATTARI, 2007). Desta forma, entendemos que a inovação na arquitetura e urbanismo se dá muito além do emprego de tecnologias no espaço urbano, mas sobretudo do entendimento do propósito para o qual estas transformações estão atuando. Esta proposta entende inovação materializada em dinâmicas regenerativas (que atuam ativamente no combate à mudança do clima), fontes renováveis (seja na origem dos materiais de construção, nas fontes de energia, na origem dos alimentos, etc), sistemas circulares e conectados (lançando mão do uso de tecnologia), redes de produção e consumo locais (valorizando materiais e saberes autóctones), participação ativa e consciente (para além dos níveis de participação simbólica ou consultiva).
sustentabilidade: a necessidade de um novo paradigma
A sustentabilidade é um pilar fundamental do projeto, em consonância com a Agenda 2030 da ONU e a Nova Agenda Urbana. Considerando a crescente preocupação com as mudanças climáticas, o projeto estará alinhado com as recomendações do relatório do IPCC de 2023 e faz uso de estratégias recomendadas pelo World Resources Institute - WRI para mitigação dos impactos do clima: (1) uso de energia limpa e eficiente, (2) descarbonização dos edifícios, expressa na escolha dos materiais de construção de base biológica ou reciclados, (3) incentivo ao transporte público e ativo, por meio da priorização absoluta do pedestre em toda área da Feira, e (4) redução de perdas alimentares e melhoria nas práticas agrícolas, no emprego de estratégias de paisagismo produtivo como horta urbana e arborização frutífera, para produção e consumo a quilômetro zero.
o trópico é universal: ele dá a volta ao mundo
Com clima predominantemente abafado e quente, Campina Grande pede por uma "arquitetura como lugar ameno nos trópicos ensolarados" (Holanda, 1976). Para isso, a proposta aposta sobretudo em uma arquitetura baseada em estratégias de sombreamento cobrindo espaços generosos, frescos e ventilados. A dissolução dos limites entre dentro e fora gera ambientes ambíguos e abertos, que respiram naturalmente. Estes "espaços de transição" estão disponíveis a diferentes ocupações e usos sem perder sua identidade espacial, evidenciando a performatividade dos espaços e o sentido do público.
As construções protegem da chuva e do sol, resguardando os volumes construídos sob elas. Teremos três tipos de coberturas, de diferentes escalas: (1) as grandes coberturas, que abrigam grandes áreas edificadas no Mercado Central e no trecho dos armazéns; (2) as pequenas coberturas, que cobrem as bancas e protegem os feirantes e compradores da chuva e do sol; (3) as coberturas em lonas tensionadas, que terão suportes para instalação conforme a necessidade dos feirantes.
Arq. Urb. Ana Carolina Cole
Arq. Urb. Eduardo Cézar Kopittke
Arq. Urb. Lucas Löff Ferreira Leite
Arq. Urb. Mariana Castro de Andrade
Arq. Urb. Mariana Mocellin Mincarone
Arq. Urb. Ricardo Zimmer Schneider